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Pe. Moacir partilhando a produção do roçado. Foto: Pe.Evando |
Prestes a completar 84 anos, o
velho missionário de coração sertanejo, mantém-se firme enfrentando os reveses
da vida. Na casa simples, cedida no assentamento Jardim, no sertão de Aratuba,
o padre Moacir Cordeiro Leite estabeleceu sua morada. Sem luxo, sem conforto
urbano e, agora, sem metade do salário que recebe do Fundo de Sustentação dos
Presbíteros, o homem que dedicou toda a vida á Igreja, não cansa e
reinventar-se e, como dizia o Patativa, “de riso na boca, zomba do sofrer”.
Nascido
no interior, ligado à agricultura e criação, perdeu o nexo com essa realidade
quando teve que estudar e em seguida entrar no seminário para se tornar padre.
Já no seminário, a ânsia de voltar às bases fez com que fosse expulso por
querer mais abertura, mais contato com o povo, com as favelas, com os pobres.
Ao ser ordenado e assumir o trabalho em Aratuba, passou a se ligar mais às
comunidades e suas necessidades. Participou de 21 desapropriações, e explica:
“o que a gente queria não era brigar com o patrão, não. Era pegar as terras que
não serviam, para os pobres trabalharem.”
Não ficou com nenhum pedaço de
terra para si. Não construiu patrimônio ou garantias para a velhice, nem possui
“fazendas no sertão” como alguns fantasiam. Ao aposentar-se, estabeleceu morada
em uma casa que estava desocupada no assentamento. Mora em família com o seu
motorista Celim, a esposa do motorista, Maria, e o filho do casal, João Lucas.
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Pe. Moacir mostrando a muda de pimenta que vai para a horta. Foto: Pe. Evando |
No começo desse ano, resolveu plantar feijão,
fava e milho em duas tarefas de terra, o que lhe rendeu legumes para o consumo
doméstico e para a ração dos bichos durante o verão. A ideia do roçado parecia
um sinal de que logo seria preciso fazer algo para complementar a renda. “Quando
veio o alerta que o Conselho deu, cortando metade do salário, a gente viu que
precisava fazer outra coisa mais compensatória pra poder a gente viver”, relatou.
Ovos, carne e feijão vêm do quintal e do roçado, mas apesar dessa vantagem, o
custo de vida continua alto. O plano de saúde obviamente bem mais caro para
quem é idoso, a prestação do carro, remédios, motorista, manutenção da casa e
do carro, tudo isso pesa no orçamento agora reduzido. A postura com relação às
celebrações que realiza é a mesma de sempre: “Continuamos sem cobrar nada. Viajo,
celebro e não cobro nada. Se querem dar uma ajuda pra gasolina, dão. Se não
quiserem, também não dão”, afirmou.
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Pe. Moacir no meio do roçado. Foto: Celim |
Pimenta de cheiro, quiabo e
maracujá serão produzidos na horta que surge como opção para complementar a
renda diante da crise. Com a ajuda de alguns amigos e com um microcrédito do
Banco do Nordeste, serão comprados equipamentos necessários para o sistema de
irrigação, fundamental no empreendimento. O corte no salário não deixou o experiente
sacerdote magoado. “A gente vai se aguentando. Tem o que comer. O que eu tô
preocupado é com os meus colegas de idade que não podem mudar para um trabalho
desses. Como é que vão fazer?”, comentou. De fato, é dom dos profetas
transformar as dificuldades em mensagem e ensinamento para si e para os outros.
Foi assim ao enfrentar a pandemia quando promoveu a distribuição de máscara, álcool
em gel, caderno de orientação e uma carta pessoal às famílias de 43
comunidades.
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Pe. Evando e Pe. Moacir voltando dos canteiros |
“Agora eu voltei às fontes”,
afirma, ao contar uma conversa que teve com dom Fragoso. O bispo dizia ter-se
desligado das origens rurais quando entrou para o seminário. Quando esteve em
Crateús fazia questão de cuidar dos canteiros, cuidar da terra com as próprias
mãos para recuperar a sensibilidade e identificar-se com os pobres
trabalhadores da terra. Essa conversa com o bispo ficou gravada em seu coração.
“Isso é o trabalho que Jesus Cristo fez também. Não saiu da base”.
Esse padre é um grande exemplo de superação. Que Deus o abençoe.
ResponderExcluirDeus esteja sempre com o irmão, grande sinal de Cristo entre nós. "Não deixem morrer a profecia", como pediu D. Helder
ResponderExcluirJesus vos abençoe 🙏
ResponderExcluirPe. Moacir nos inspira. Gratidão por sua resistência, profecia e a defesa da agricultura familiar. Que as pessoas que foram benefiadas com sua solidariedade possam nesse momento ser gratos/as e ajudar também a promover a vida e a agricultura familiar. Que Deus lhe dê muita saúde e força pra continuar sendo fiel ao projeto de Deus.
ResponderExcluirA Economia de Francisco e Clara! Força e fé!!
ResponderExcluirTive a honra de conhecer este padre quando fui seminarista (saí há mais de 10 anos - Na época ele estava em Beberibe ou Cascavel). Um grande missionário. Não me arrependo de ter entrado, nem de ter saído do seminário justamente por ver o sofrimento e abandono com que são tratados quando aposentam. Que o Criador lhe mantenha com saúde e força para fazer da adversidade mensagem e profecia.
ResponderExcluirComo ele, muitos idosos estão tendo que voltar ao campo ou fazer bico para sobreviver! Esse é o país do Bolsonaro.
ResponderExcluirPadre Moacir, eu o conheci no seminário e vejo que você, no fundo, não mudou. Ficou sendo homem ligado ao povo, um grande exemplo para os dias de hoje e para os sacerdotes, sobretudo, que se desligam de seu ambiente de origem ao entrar no seminário, como verifiquei tantas vezes e como você nos lembra de modo tão claro, citando inclusive uma confissão de Dom Fragoso. Que Deus lhe dê forças para continuar nesse caminho, que é o caminho certo!
ResponderExcluirVergonha pra igreja católica desprezar um membro na hora que ele tanto presciza vergonha
ResponderExcluirO Pe Moacir é um exemplo de vida . É um missionário que realmente nos faz entender que a vida precisa ser vivida na sua maior plenitude.
ResponderExcluirFoi um dos grandes nomes da Igreja do Brasil e que hoje , infelizmente recebe as injustiças dessa sociedade capitalista e desumana.
Sua velhice precisava ser mais digna do ponto de vista econômico, não precisando enfrentar o forte sol do sertão para completar sua renda.
Grande Pe. Moacir
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