Santas Missões em Mulungu: O “Pai Abraão”* continua em saída...

Durante as Santas Missões Populares na paróquia de Mulungu, Ceará, o padre Moacir Cordeiro Leite demonstrou, mais uma vez, a força do espírito missionário que o anima e conduz. Durante uma semana a paróquia pôde desfrutar de tão eloquente testemunho de vida e ação missionária.
Aos 81 anos, padre Moacir parecia um menino. Disposto, pediu que não tivesse nenhum privilégio na hora de enviá-lo às comunidades. Estava totalmente disponível. De posse do material da missão, dirigiu-se à comunidade dos Bastiões, um bairro próximo do centro. É que mesmo com toda sua disposição, os organizadores levaram em consideração a idade e a saúde do irmão sacerdote.

Pois é. A emoção foi tanta que a pressão do veterano missionário subiu. Na manhã seguinte fomos ao hospital onde os cuidados básicos foram realizados e os conselhos médicos fizeram com que mudássemos os planos. Evitar esforço físico e cuidar da alimentação foi a recomendação que fez com que o “Pai Abraão” ficasse hospedado na casa paroquial sob os cuidados do pároco. Mas a participação na missão não diminuiu, apenas mudou de lugar e de forma. Participando das caminhadas matinais sob o frio das madrugadas de julho, o velho sacerdote se negava a usar casaco.

Só com muita insistência passou a usá-lo nos últimos dias. É que os longos anos de missão como pároco de Aratuba certamente o aclimataram bem às baixas temperaturas da serra. Foram dias de alegria profunda. Não faltou animação, não faltou partilha de tão grande experiência nas missas, nas visitas cheias de velhas lembranças, nos programas de rádio, na convivência fraterna. Até na cozinha ele se meteu. Disse que ia preparar uma receita própria... a mistura ficou boa, mas a vocação missionária tem muito mais sabor.

No encerramento da Semana Missionária a festa se completou. Uma procissão cheia de vida, alegria e ardor missionário. Gente de todas as comunidades, missionários de outras paróquias, todos unidos numa só voz a cantar e celebrar a despedida já com uma saudade estampada no rosto. Na entrada para a missa de encerramento resplandecia no rosto do padre Moacir um sorriso cristalino, fruto de uma satisfação única de quem continua na luta. Braços erguidos, saudando a multidão, pisadas firmes na caminhada ao ritmo das vozes que explodiam em um som que vinha do fundo da alma em forma de canto: “o nosso jeito de ser Igreja, é o nosso jeito de viver a fé...”

Pe. Evando Alves de Andrade

*Os seminaristas da minha época chamavam o padre Moacir de "Pai Abraão".