Ainda estava escuro quando, pelas quatro e meia da madrugada do dia 20 de setembro de 1982, uma leva de camponeses entrava em Canindé. Não, não eram retirantes flagelados pela seca que castigava o sertão nos primeiros anos da década de 1980. Vinham a pé, em romaria, descendo a serra de Aratuba, para agradecer a São Francisco pela conquista da terra nas fazendas Monte Castelo, Boqueirão e Jardim, desapropriadas depois de muita luta e sofrimento no sertão. Caminhavam com o povo os padres Zé Maria (in memoriam), Alfredinho (in memoriam) e Moacir. Foto: Arquivo Padre Moacir Pelo caminho, enquanto os padres iam fazendo reflexões em lugares estratégicos, mais gente ia se juntando à caravana. Outros ofereciam o pouco que tinham para partilhar: “foi lindo porque na viagem a gente começou a encontrar gente com uma garrafa de café, um pacote de bolacha... quer dizer, uma multidão e o cara trazia uma coisinha. Mas de tanto ser espontâneo, não faltou” - lembrou o padre Moacir. Foto: Arq...
Pe. Moacir partilhando a produção do roçado. Foto: Pe.Evando Prestes a completar 84 anos, o velho missionário de coração sertanejo, mantém-se firme enfrentando os reveses da vida. Na casa simples, cedida no assentamento Jardim, no sertão de Aratuba, o padre Moacir Cordeiro Leite estabeleceu sua morada. Sem luxo, sem conforto urbano e, agora, sem metade do salário que recebe do Fundo de Sustentação dos Presbíteros, o homem que dedicou toda a vida á Igreja, não cansa e reinventar-se e, como dizia o Patativa, “de riso na boca, zomba do sofrer”.
Na Aratuba querida Por ele tão visitada Se reunia com a gente Debaixo de uma latada Quando era aqui no sertão Comia nosso pirão Dormia em nossa morada Assim cantou o poeta Alfredo Paz em seu cordel comemorativo dos 50 anos da libertação da terra e dos meeiros nas fazendas São Miguel, Ipueira da Vaca e Logradouro, no sertão de Canindé. O folheto foi distribuído durante a missa que, além do cinquentenário da Reforma Agrária, celebrava os 38 anos da doação das terras compradas pela Igreja para o INCRA em 1986 e o início do ano comemorativo do centenário de Dom Aloísio Lorscheider. A importância do cardeal nesse processo de libertação é imensurável. Sua dedicação e sensibilidade encantam até hoje os que tomam conhecimento do seu trabalho. Mas o encantamento também se deu da parte de Dom Aloísio. Encantou-se ele com as comunidades que mesmo em meio ao sofrimento demonstravam grande delicadeza, bondade e cortesia. Aqui, transcrevemos uma carta, uma obra prima não inferior aos escritos ...
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